Não é muito diferente agora, com Pobres Criaturas, igualmente “didático” como peça feminista – com a diferença de que, enquanto Barbie pegou a estrada da fofura e do deboche, o filme de Yorgos Lanthimos escolheu o bem mais tortuoso caminho do surrealismo e da luxúria. Indicado em impressionantes 11 categorias no último Oscar, Pobres Criaturas saiu da festa com quatro deles: maquiagem e cabelo, figurino, design de produção e melhor atriz para Emma Stone, muito mais merecedora do que em 2017, quando venceu com La La Land.
Como já chegou ao mundo crescida, vemos Bella amadurecer de forma extremamente rápida – com ações, expressões e falas infantis dando lugar às de uma mulher bastante segura e assertiva – e não digo exatamente “questionadora” porque Bella, criada por “God” (e há tantos sentidos nisso) sequer entende por que alguém viveria, senão segundo seus próprios desejos. Ela não conhece nem reconhece nada além da liberdade.
Provavelmente, Pobres Criaturas só incomodou menos do que Barbie porque, afinal, não é um filme para as massas. Além de ser muito sexual (o que não significa que seja erótico), exige atenção, desprendimento e comprometimento intelectual que muita gente, hoje em dia, não parece muito disposta a empregar. Este é um problema do mundo, porém, não desta bela obra. É exatamente por causa das pessoas que vão achar seu feminismo “militante” ou “doutrinador” que ele existe e prova-se necessário. Quem dera todo filme “didático” fosse sempre tão interessante.
Pobres Criaturas pode ser visto no Star+.
3 comentários:
E aí, Marlo!
Adorei a perspectiva. De certa forma, a "bolha God" em que Bella vivia foi essencial para a sua personalidade intocada por mitos, tradições e, principalmente, pelo patriarcado. Foi o que permitiu suas intensas aventuras e autodescobertas.
O personagem do Rufallo nem conseguiu anotar a placa. Não tinha a menor chance, coitado.
A direção de arte desse filme é estupenda. Por vezes lembra o clipe de "The Perfect Drug", no NIN, e até algumas coisas mais lisérgicas do conterrâneo Alex Proyas.
Ainda não vi Barbie...
Abração!
Queria ter gostado mais desse filme... Entendi a moral & imoralidades da história, mas fiquei preso às comparações c/ A Favorita, do mesmo Yorgos. Temas e estética muito parecidas... Aquela câmera 360° então... O que pegou mais comigo foram as atuações acachapantes do Dafoe e a Stone; sempre c/ uma mãozinha de maquiagem e figurinos soberbos.
DOGGMA, o personagem de Ruffalo é meio como aquele tipo que diz que mulher que não quer depender de homem é "mal-comida". Sabe de nada, inocente - e veja Barbie, que é uma trip açucarada do bem.
LUWIG, eu acho que te ver mencionar A Favorita acordou em mim a lembrança de que não vi o filme nas melhores condições, e entendo que ele merece uma revisão. Sei que gostei, mas lembro bem pouco dele.
Abraços, senhores!
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