O prolífico autor de quadrinhos francês Fabien Toulmé tem um caso de amor antigo com o Brasil: foi aqui, durante um intercâmbio na Paraíba, que ele conheceu sua esposa. Também viveu e trabalhou em Fortaleza. Seu tempo em nosso país ocupa muitas páginas de sua HQ de estreia, a muito sensível Não Era Você Que Eu Esperava, onde corajosamente expôs os sentimentos conflitantes que experimentou quando sua primeira filha nasceu com Síndrome de Down.
Em Inesquecíveis, Toulmé não está falando de si nem criando histórias delicadas e emocionantes: apenas faz curadoria e roteiriza histórias reais que coletou em entrevistas. São episódios que marcaram a vida das pessoas que as contaram – mesmo que não tenham sido elas a vivê-las, a exemplo da história sobre um casal de brasileiros, narrada por uma amiga.
Há o caso de uma moça estuprada pelo próprio namorado; uma menina cuja identidade foi apagada pela religião; um garoto francês que vivia em Ruanda quando estourou a sanguinária guerra civil de 1994; um casal que perde o trem do amor durante décadas, mas nunca deixa de se amar; e um garoto que parece perdido para o crime, até que um voto de confiança muda sua vida e dá início a mudanças no sistema penal francês.
Com pouco mais de 120 páginas, Inesquecíveis é uma leitura rápida, talvez até demais, pro leitor acostumado a outros trabalhos do autor. Um segundo volume já existe e deve ganhar versão brasileira em breve. Mesmo que toque o coração do leitor de diversas maneiras – certas histórias reais têm o encanto de rivalizar com a ficção em suas reviravoltas – parece fazer falta ao livro o toque da imaginação de Toulmé, seu humor autocrítico, suas observações muito pessoais sobre as pessoas e sobre a vida.
É um livro que pode deixar a gente mais feliz
numa tarde de leitura e pode funcionar como porta de entrada à sua obra, mas
está longe do brilhantismo de um Duas Vidas (até aqui, para mim, seu auge).
Organizar esta coletânea pode ter sido o jeito que ele encontrou de manter-se
próximo ao leitor, enquanto trabalha em seu próximo épico de lirismo
cartunesco. É válido, mas a gratificação é pouca.