24/09/2025

Alien: Earth

Não muito tempo atrás, Alien era uma das franquias mais maltratadas por Hollywood. Agora, por mais improvável que pudesse parecer há coisa de uns 10 anos (quando Alien: Covenant, de 2017, fazia crer que ninguém - nem mesmo seu criador, Ridley Scott – seria capaz de torná-la relevante outra vez), estamos vivos em 2025 e testemunhando o retorno do monstrengo à boa forma. Ano passado, tivemos o enxuto e eficiente Alien: Romulus, de Fede Alvarez. Este ano, surpresa ainda maior nos foi reservada com a série Alien: Earth

Se já estava difícil engolir duas horas de xenomorfo a cada três ou cinco anos, imagina como seria aguentar cerca de oito horas disso em umas poucas semanas. Então, é preciso ser compreensivo com quem, como eu, achou que tirar mais leite dessa pedra parecia uma ideia prematura e ruim. Sem entusiasmo para buscar detalhes sobre a produção, não vi o nome de Noah Hawley entre os envolvidos. Hawley é roteirista de dois grandes e respeitados hits: as séries Fargo e Legion

Os primeiros dois episódios são formulaicos, até previsíveis: uma nave desgovernada cai sobre a sede da Prodigy, uma das cinco corporações que substituíram os governos e “pacificaram” a Terra. Em seu interior, uma tripulação literalmente despedaçada e uns poucos espécimes alienígenas - entre os quais, um xenomorfo adulto e alguns ovos de facehuggers (aquela “aranha” que gruda na cara e deposita o feto do bicho no tórax da vítima). Jump scares, paramilitares... Tudo faz parecer que estamos diante de um filme mediano, esticado muito além de qualquer bom-senso – ainda mais considerando a presença de não uma, não duas, mas seis crianças, com suas mentes em corpos adultos artificiais. 

Felizmente, também existe do que gostar logo de cara: o ciborgue Morrow (Baboo Ceesay) e o sintético Kirsch (Timothy Olyphant, em grande momento) são dois tipos memoráveis, rivais tecnológicos em lados opostos no esforço de contenção da fauna alienígena: enquanto o implacável Morrow foi o único sobrevivente da queda da nave Maginot (que pertence a uma corporação concorrente, a Weyland-Yutani), o impassível Kirsch tenta assegurar a posse dos estranhos bichos para o super-rico, superdotado e supermimado dono da Prodigy, o excêntrico e amoral Boy Kavalier (Samuel Blenkin, igualmente hipnótico e repulsivo no papel). 

Com a apreensão e remoção dos espécimes para a ilha de pesquisas da Prodigy, a série finalmente engata uma segunda marcha e não para de ficar mais interessante a cada capítulo. Além do constante perigo representado pelos animais (com apetite voraz e diferentes graus de inteligência), também as crianças-prodígios acabam sendo o centro de diversas discussões éticas sobre a transferência de corpos que sofreram. Elas ainda são quem eram antes? Ainda são pessoas ou são meros produtos? Ao tirar suas mentes de seus corpos doentes e garantir-lhes virtual imortalidade, a Prodigy foi benevolente ou cruel? 

Wendy: crescer é uma merda, mas tem vantagens.

As questões filosóficas, porém, estão em equilíbrio com a ação, e a série não nos poupa do gore que tornou a franquia famosa: prepare-se para muito sangue e algumas cenas dignas de pesadelos (você nunca mais vai olhar para uma ovelha como antes). Novos monstros e suas criativas formas de matar tiram Alien: Earth do marasmo que seria depender exclusivamente do xenomorfo desenhado por H. R. Giger (agora, visto em plena luz do dia, sob o sol tropical da ilha da Prodigy). Algumas dinâmicas entre os espécimes e diversos personagens são inesperadas (não dava para todo mundo ser só comida, afinal) e logo a gente percebe que Wendy (Sydney Chandler), a primeira das crianças artificiais, tem muito mais a oferecer do que vigor físico inesgotável. 

O abundante uso de efeitos práticos ajuda a afastar o ranço a que estaríamos suscetíveis com excesso de CGI (o uso do recurso é discreto). O suspense e a tensão crescem durante a primeira metade e explodem no quinto episódio, quando descobrimos o que aconteceu na Maginot antes de sua queda. O prazer de assistir a um bom produto da franquia Alien é completado por uma trilha sonora que, ao fim de cada episódio, traz um rockão que serve de comentário ao que foi visto desde a abertura: prepare-se para bater cabeça ao som de Black Sabbath, Metallica, Tool, Queens of the Stone Age e Pearl Jam, entre outros. 

Alien: Earth é mais uma injeção de sangue novo (com ou sem trocadilho, você decide) em uma franquia que passou décadas respirando por aparelhos, mas que parece ter encontrado um bom rumo e, mais importante ainda, gente capaz de guiá-la até lá. Tudo no último episódio grita que haverá uma segunda temporada – e ainda bem que não estamos na Terra, porque “no espaço, ninguém pode ouvir você gritar”. Com o rigor e diversão vistos aqui, o quase cinquentão xenomorfo seguirá assombrando mais algumas gerações. 

Nenhum comentário: