Suas virtudes deram origem a um culto de fãs apaixonados,
com gente indo ao extremo de levar suas vidas como se fossem Sheldon e seu
grupo de amigos peculiares (espero que tenham sido apresentadas ao sexo e à
bebida e deixado de patacoada). Eu ainda fui forte o suficiente para assistir a
umas sete temporadas. Parei apenas porque me pareceu mais interessante ver
outras coisas, mas ainda gostava de assistir. Ao saber que uma série sobre a
infância de Sheldon Cooper estava sendo produzida, porém, eu não contive o
bocejo. Quando foi ao ar e alguns amigos começaram a me recomendar que
assistisse, eu era taxativo: “eu não tenho o menor interesse numa série sobre o
Sheldon criança”.
Pois este é mais um daqueles casos em que fico muito feliz por estar equivocado: Jovem Sheldon vale a pena demais!
A primeira e significativa diferença com relação a Big Bang é que não existe uma claque (uma plateia para rir no estúdio, ou uma mera trilha gravada de risadas), o que nos livra da distração que ela representa, além de nos deixar decidir o que achamos engraçado ou não. Também é menos dependente de humor físico (caretas e correria) e abre mão de adultos agindo feito crianças, para que, em vez disso, tenhamos crianças se comportando como tal – mesmo que a mais importante delas sequer se entenda como uma.
O tom encontrado para o Sheldon criança é simplesmente perfeito. Ele é um geniozinho precoce, sim. Tem aquele ar desligado para as coisas que interessam às ditas pessoas normais. Prefere nunca mentir e usa pouco ou nenhum filtro ao falar a verdade. Nem sempre percebe quando estão tirando sarro dele. Esses traços de sua personalidade eram engraçados em Big Bang porque ficavam meio ridículos em um homem adulto. Como criança, Sheldon ganha a desculpa de que ainda é fofinho e “verde” no trato social, o que nos permite entender melhor o adulto que se tornou. É uma criança especial, em qualquer sentido que se aplique à expressão.
A vida de Sheldon com sua família na pequena Medford, Texas, é o pano-de-fundo para diálogos e situações muito espirituosos e inteligentes sobre religião, ateísmo, ciência, paternidade, adolescência, rivalidade e comparações entre irmãos, tabus e preconceitos. O pequeno gênio só tem a verdade dos livros – que considera pura e inatacável – em seu favor, e é do choque dessas certezas com a dureza e as “áreas cinzas” da realidade que a série tira muito de seu humor. Há espaço para muita emoção e identificação genuína, com a série escapando com elegância das armadilhas do melodrama (e, olha, sutileza nem sempre é um valor associado ao nome de seu criador, Chuck Lorre).
Além da alta qualidade do roteiro, temos este elenco, nunca menos que fabuloso: Iain Armitage (o pequeno Sheldon) é um achado, craque em saber a hora de quebrar a expressão impassível do personagem e deixá-lo quase “normal”, com uns bem colocados “uuuh” e “ah, rapaz!” que denotam sua animação. Sheldon é irritante – e quem me conhece sabe o quanto me irritam crianças precoces – mas é, também, fofo até não poder mais.
Outros personagens de destaque são a espevitada irmã gêmea Missy (Raegan Revord), a descolada “vozinha” Connie (Annie Potts) e a fanática mãe Mary (Zoe Perry). Em maior ou menor grau, toda a família de Sheldon – completa pelos George pai (Lance Barber) e filho (Montana Jordan) – é composta de tipos cheios de camadas interessantes. Entretanto, dá para dizer o mesmo de personagens menos frequentes, como o simpático Dr. Sturgis (Wallace Shawn) e o treinador assistente de George, Wayne Wilkins (Doc Farrow).
Enquanto escrevo, me aproximo da metade da
quinta temporada. Sabendo que a sétima e última faz conexões diretas com The Big
Bang Theory e conhecendo o destino de alguns personagens, já me preparo para
encarar uns episódios bem difíceis. Mesmo assim, não posso deixar de
reconhecer: que felicidade foi dar uma chance a Jovem Sheldon! Ver como ele e
sua família mudam e melhoram a cada temporada é de aquecer o coração. É dessas obras
que deixam a gente se sentindo bem consigo e com o mundo.