A ideia de deslocar-se no tempo sempre foi um poderoso motor da imaginação: em algum momento, todo mundo já sonhou em poder voltar ao passado, para tentar consertar pequenos ou grandes erros; ou visitar o futuro, para saber se o mundo (ou, pelo menos, o seu mundo) será melhor ou pior. Muito já foi escrito e filmado sobre o assunto – e não somente a serviço da ficção científica: até o romance e a comédia já se utilizaram do artifício. Controlar o tempo é um sonho antigo da humanidade – hoje, mais pelo desejo de honrar as demandas diárias e conseguir descansar do que por uma vontade de corrigir o passado ou moldar o futuro.
Na segunda metade dos anos 1930, a vida era bem simples no interior da Inglaterra, em que duas irmãs órfãs, Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini) - ou Thom e Mars, como se chamam entre si – desenvolvem uma máquina capaz de captar ondas de rádio e televisão, que, com ajustes muito específicos, encontra uma frequência de ondas vindas do futuro. O dispositivo é batizado como LOLA, em homenagem à sua falecida mãe. A princípio, as irmãs usam seu invento para conhecer música do futuro (David Bowie se torna um ídolo para elas quase 30 anos antes de lançar seu primeiro disco), a moda e as revoluções de costumes. Porém, elas descobrem, também, que, muito em breve, a Segunda Guerra Mundial começaria, e que seu país seria arrasado pelas forças alemãs.
Isoladas em sua casa de campo, Thom e Mars decidem intervir, da maneira mais discreta que conseguem, para evitar que o curso da história seja muito drasticamente alterado. Limitando-se a emitir alertas antecipados e anônimos sobre os ataques para que as pessoas se protejam, as irmãs esperam apenas reduzir a perda de vidas. Sua atuação acaba chamando a atenção dos militares ingleses, que desejam saber dos ataques antes que aconteçam, e o fazem com grande sucesso. Acontece que a História é uma via de mão dupla e, quando a tática inglesa se torna evidente para os alemães, o mundo corre risco de conhecer tempos ainda mais sombrios.
Rodado durante a pandemia e originalmente lançado em 2022, em estilo found footage (filmagens “reais” achadas “ao acaso”), Máquina do Tempo é uma prova irrefutável do poder de uma boa história. Curtíssimo (79 minutos) e baratíssimo, o filme de estreia do irlandês Andrew Legge dá uma surra de narrativa e impacto em produções com orçamento muito superior. As irmãs protagonistas são ótimas personagens, cheias de coragem e dualidades, entregues a ótimas atrizes. Elas conhecem a violência dos homens de diversas maneiras, mas não abrem mãos de suas individualidades, mesmo quando isso as coloca em lados opostos.
Há muito cuidado na mescla de imagens
reais com encenações, e a edição de sons e a trilha sonora têm uma qualidade acima da média, seja
nos temais incidentais que exalam tensão ou nos hinos do rock que funcionam
como comentários para os eventos do filme. Máquina do Tempo teve discreta
passagem por nossos cinemas em março e, hoje, pode ser alugado ou comprado em
alguns serviços de streaming - e se você for um corsário de mão fechada e
preferir navegar em busca do tesouro, eu te entendo e não te julgo: LOLA justifica
totalmente a aventura e a transgressão.
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