21/05/2025

O Dia do Chacal

Sem ter lido o livro homônimo de Frederick Forsyth, escrito em 1971, e sem ter visto o filme que o adaptou em 1973, eu decidi ver O Dia do Chacal porque ela esteve presente em diversas listas das melhores coisas de 2024. Também me chamaram atenção os protagonistas: Eddie Redmayne, como o Chacal, matador de aluguel mais letal do mundo; e Lashana Lynch, como Bianca Pullman, agente do MI6 em seu encalço. Ambos ingleses, como o autor do livro, hoje com 86 anos.

Como está adaptando uma história de cinco décadas atrás, a série (um produto original do streaming Peacock, disponível para nós pelo Disney+) teve que fazer mudanças na trama e nos personagens, para encaixá-los no século XXI, a maior delas sendo substituir o detetive Claude Lebel pela agente Bianca Pullman, com seu senso de dever inabalável de veterana de guerra e forte faro investigativo, mas que, com frequência, mete os pés pelas mãos em seu esforço para capturar o Chacal. Enquanto tenta ser boa agente, boa mãe e boa esposa, Bianca vai acumulando bolas fora aqui e ali, mas sem jamais perder o rastro do assassino. O roteiro também tenta surfar a onda de assuntos da hora, como as críticas aos bilionários e a responsabilidade social (ou falta dela) das big techs.

O bom elenco é um dos grandes acertos aqui. OK, Redmayne tem um Oscar pra chamar de seu, mas ele caminha sobre uma linha muito fina, que separa estilo de interpretação da falta de versatilidade. Apesar disso, seu jeitão gélido e impassível caiu bem para o assassino Chacal, um atirador capaz de acertar alguém a quase 4 km de distância e que, determinado a levar uma vida normal ao lado da esposa espanhola (Úrsula Corberó, de La Casa de Papel) e do filho pequeno, vê-se tentado pelo altíssimo cachê e altíssima complexidade de um último serviço. Acontece que o penúltimo (no qual, ainda por cima, levou calote) chamou a atenção de Bianca Pullman, e ela não é do tipo de que ignora sua intuição ou desiste fácil. Na pele da obstinada Bianca, Lynch traz de volta a fisicalidade que a tornou destaque em cenas de ação de A Mulher Rei e 007: Sem Tempo Para Morrer, apesar do corpo sempre coberto por pesados uniformes ou roupas “de mãe”.

O jogo de gato-e-rato prende a atenção e deixa a gente nos cascos, apesar de alguns lances de pura “sorte de protagonista” em favor do Chacal – aliás, li em algum lugar na internet que o espectador ficava torcendo por ele e contra Bianca, mas não me peguei nessa contradição moral, basicamente, porque o Chacal de Redmayne não é um assassino charmoso: ele é uma mera máquina de matar. Há pouco espaço para identificação, e mesmo o esforço dele em ficar disponível para a esposa e o filho pequeno parece pouco sincero. Do lado de Bianca, a crise no casamento, embora mais passível de empatia, carece de peso dramático, previsivelmente voltando à estaca zero, bem no momento em que mais deveria importar.

Com seus dez episódios carregados de tensão, a série garante uma diversão bastante eletrizante, em produção de alto nível. O último episódio tem um final que diverge daquele do livro, medida que pareceu ter sido só um jeito de garantir uma segunda temporada – já confirmada. Achei o destino de certo personagem um exagero desnecessário (na verdade, eu espumei de ódio), mas, apesar dos pesares, O Dia do Chacal realmente merece uma vaga em qualquer lista decente das boas coisas do streaming no ano que passou – mas, para mim, longe das cabeças. Um meio do caminho honesto entre a base e o topo já está de bom tamanho.

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