Enquanto A Saga do Batman e A Saga dos X-Men já ultrapassaram todas as expectativas de sucesso (com algumas edições simplesmente sumindo do mercado ou sendo vendidas a peso de ouro), com a primeira confirmada para relançamento de sua primeira temporada (em sistema de assinatura e box de coleção), as Sagas de heróis menos populares prosperam mais devagar, com suas edições bimestrais. É o caso da Mulher-Maravilha, cuja primeira temporada trouxe, em sete edições, a fase de John Byrne - de que já não gostei em seu lançamento original, pela Editora Abril, e, portanto, evitei.
Na oitava edição, começa a segunda temporada de A Saga da Mulher-Maravilha, com a primeira fase escrita por Greg Rucka - o que significa que a Panini saltou, sem qualquer cerimônia, a fase com Phil Jimenez na escrita e na arte (na qual ele colaborou brevemente com sua principal influência, o saudoso mestre George Pérez). É mais uma decisão questionável da editora, embora não tão grave quanto foi, para mim, o hediondo duplo twist carpado que deram sobre a extensa e gostosa fase de Joe Kelly, quando esta seria a coisa mais lógica para inaugurar a segunda temporada d'A Saga da Liga da Justiça; ou a amada fase de Tom Grummett, na agora finada A Saga dos Novos Titãs, ignorada em favor da fase de Geoff Johns, medíocre e já publicada dentro da própria Panini.
Nas mãos de Greg Rucka, Diana atua como embaixadora de Themiscyra nos Estados Unidos (com direito a escritório, assessores e toda a burocracia que vem junto). Ao mesmo tempo, Diana publica um livro com uma versão resumida de sua visão de mundo, gerando muita controvérsia. Era 2003, quando a internet ainda era "mato", as redes sociais ainda eram relativamente "inocentes", mas já se discutiam o ódio gratuito e a defesa apaixonada de opiniões preconceituosas e sem embasamento. Se os americanos tivessem a mínima ideia de como as coisas degringolariam em 20 anos...
Bom, talvez eles tivessem, e o plano fosse esse, mesmo.
Enfim, Diana está ocupada como jamais pensou que estaria, equilibrando-se entre os papéis de heroína, diplomata, celebridade literária e mulher com vontades bem humanas, como comer doce e ter um boy pra chamar de seu. Mais ou menos alheias ao seu controle, pequenas e grandes conspirações se revelam, vindas de muito longe (com as dinâmicas de poder entre um Zeus cada vez menos influente e uma Hera cada vez mais ciumenta representando perigo para todas as amazonas) e de muito perto (com a cientista e empresária Veronica Cale desvirtuando as palavras e ações de Diana, provocando reações cada vez mais negativas da população).
Não é uma unanimidade, mas me agrada a caracterização de Diana como uma pessoa extremamente paciente diante da raiva e da burrice de seus detratores, ao mesmo tempo em que precisa ser implacável com antigos e novos inimigos (entre estes, a versão deturpada e letal de uma amiga querida). O grande diferencial da escrita de Greg Rucka está nas interações sociais de Diana com as pessoas em seu entorno, sejam os funcionários da embaixada, os colegas da Liga, repórteres ou cientistas. É um gibi no qual não falta ação (este não é, afinal, um conceito limitado a tiro, porrada e bomba), mas Rucka não tem pressa em posicionar as peças no tabuleiro. Mistério e intriga são especialidades suas desde sempre.
Chama atenção, também, a reestilização dos deuses olimpianos: exceto por Zeus e Hera (mais velhos e apegados aos costumes do passado), todo o panteão se veste e se comporta como humanos modernos, ostentando cabelos estilosos, óculos escuros e roupas da moda. Atena é vista com um iPad. Hermes fuma maconha o dia todo. Pouco lembrados pela atual sociedade ocidental, o que resta a fazer para deuses sem seguidores? O mais antigo dos bons conselhos: aproveitar a vida - o que fica ainda melhor quando dinheiro e tempo não são problemas.
A arte de Drew Johnson também traz novidades para o visual de Diana: com uma pele mais morena, cabelos muito lisos e nariz alongado, a heroína agora lembra menos uma caucasiana e mais uma persa (exceto, talvez, pelos olhos muito azuis). Tal mudança, porém, não é refletida nas ótimas capas da fase, com belas ilustrações de Adam Hughes e J. G. Jones (há duas de Phil Noto neste volume, mas parecem estranhas e indignas junto às demais), em que Diana é a mesma top model entalhada em mármore que conhecemos desde sempre.
Foram 30 edições escritas por Rucka, então, talvez esta segunda temporada seja ainda mais curta que a primeira. Caso prossiga, trará a fase de Allen Heinberg, que foi comprometida por atrasos e enxertada com uma série catastrófica, "O Ataque das Amazonas". Outro salto deixaria tudo muito perto da cronologia atual (outro erro cometido com a A Saga da Liga da Justiça), então, talvez seja o momento de a) mandar a cronologia às cucuias e publicar as 25 edições de Phil Jimenez, ou b) sacrificar mais uma Saga mal-planejada, em nome de uma "segurança" editorial discutível.
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