15/01/2024

Os Rejeitados


Em 1970, o professor Paul Hunham (Paul Giamatti) é conhecido como um carrasco entre os alunos do prestigiado internato de ensino médio Barton, para onde vão os filhos adolescentes das famílias abastadas da região conhecida como New England, nos EUA. Depois de reprovar o filho de um importante patrono da escola, Hunham (que foi bolsista em Barton) recebe a missão de tomar conta de alguns alunos que não podem visitar suas famílias durante as festas de fim de ano.

Se passar o Natal na escola não parece agradável nem para o antissocial Hunham, imagine para os mimados internos. Com eles, está a cozinheira-chefe, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), cujo filho foi aluno em Barton, mas morreu meses antes, na Guerra do Vietnam. Quando quase todos os “detentos” conseguem autorização para passar as festas na mansão da família de um deles, somente Angus Tully (Dominic Sessa) permanece em Barton com Hunham e Mary. Os atritos são inevitáveis, mas, aos poucos, Hunham e Tully vão se conhecendo melhor e revelando aspectos peculiares de sua personalidade e história.


Contos de passagem à vida adulta para jovens rebeldes não são exatamente o cúmulo da originalidade no cinema, como tampouco o são aquele sobre transformações de caráter durante um Natal de adversidade. Os Rejeitados, porém, reúne qualidades que o colocam em destaque.

Em primeiro lugar, existe o elenco. O trio central (Giamatti, Randolph e Sessa) saiu inteiramente premiado no Critics Choice Awards deste ano (como Ator Principal, Atriz Coadjuvante e Jovem Ator, respectivamente). Como o doce e problemático Angus, Sessa não se intimida em dividir cena com um furacão do porte de Giamatti (com quem o diretor Alexander Payne já tinha feito Sideways: Entre Umas e Outras, em 2004). O professor Hunham é um desses tipos cascudos, cuja personalidade se desdobra em camadas cada vez mais interessantes (com o auxílio de um desvio ocular que lhe vale o apelido de O Vesgo).

No papel da sofrida e pragmática Mary Lamb, Da’Vine Joy Randolph é como um vulcão abafado. Detesta o trabalho de alimentar garotos que a desprezam, mas entende que a opção (não ter esse trabalho ruim) é pior. Quando pensa já ter chorado tudo que podia pelo filho perdido, o Natal reabre suas feridas, mas ela ainda encontra em si afeto e sabedoria (na forma de cortante franqueza) para dividir.

A ambientação setentista de Os Rejeitados extrapola o mero cenário de sua narrativa, estendendo-se à textura granulada de sua película, aos créditos retrô e àquele sentimento de perda de inocência que se abate sobre todos os personagens, num tempo em que o próprio país era puro desencanto. Depois do fraco Downsizing, de 2017, Alexander Payne reencontra seu rumo com um filme despretensioso e surpreendente da melhor maneira possível. Dificilmente vai abalar o favoritismo de Oppenheimer no Oscar, mas é um filme que deixa a gente se sentindo bem consigo mesmo e com a humanidade. Não é pouca coisa.

3 comentários:

UmGeraldoAí disse...

Talvez pra sociedade moderna acelerada, que quer logo ver algo explodindo e revelações estarrecedoras, tipo eu, (risos) precisa de um pouco de paciência porque a história vai ficando cada vez melhor. Super recomendo

Anônimo disse...

Da’Vine Joy Randolph , conheci na série Alta Fidelidade, já chamou a atenção ali pra mim... e a estética do filme como os filmes dos anos 70, achei bem bacana

Marlo de Sousa disse...

- GERALDO, eu sou suspeito pra falar, pois drama é meu gênero de filme favorito. Essa pressa de chegar ao fim das coisas não é algo a que eu ceda com frequência, quando se trata da sétima arte.

- ANÔNIMO, pois é, a Da'Vine estava ótima em Alta Fidelidade, sem dever ao Jack Black em humor ou nuances dramáticas. Pena que uma série tão legal parou na primeira temporada.

Abraços!